Padrão global de identificação GS1 DataMatrix confere mais confiabilidade aos medicamentos

A cadeia de produção e abastecimento de medicamentos no Brasil é formada por fabricantes, laboratórios farmacêuticos, operadores logísticos, distribuidores, redes de drogarias, farmácias e hospitais. A padronização da informação que trafega em todos os elos desta cadeia, até que o medicamento chegue ao paciente, foi o principal tema discutido na seana passada na “Conferência de Saúde – padrões e rastreabilidade com foco em medicamentos”, promovida na sede da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil. troca de informações nos sistemas de automação desde a embalagem do medicamento até o varejo envolve uma série de processos que pode garantir a segurança do produto e do paciente. A linguagem única que carregará todas as informações necessárias para o bom funcionamento da cadeia será o padrão GS1 DataMatrix. O número de informações precisas necessárias aos processos de automação e a capacidade de recuperá-las sempre que preciso é o conceito básico da rastreabilidade, que começa a virar realidade no país.

Representantes do Ministério da Saúde, DHL, Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), AGV Logística, Johnson & Johnson, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Sírio Libanês e Hospital das Clínicas debateram esse tema. “Ao adotar o código GS1 DataMatrix como padrão de identificação, a cadeia vai garantir a unicidade do medicamento, permitindo a rastreabilidade por meio de uma série de informações como GTIN, registro na Anvisa, números de série e de lote, data de validade, o que propicia agilidade, eficiência, precisão na conferência dos itens e principalmente, segurança na cadeia”, explica Patricia Amaral, assessora de negócios da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil. Patricia reforça que o código carrega informações desde a origem do produto ao ponto de utilização, o que minimiza os erros nos processos de atendimento e medicação do paciente. Propostas – O desafio de ter um sistema universal, público e gratuito de saúde em um país de mais de 100 milhões de habitantes foi destacado por Moacyr Perche, coordenador geral de gestão de projetos de TI no Ministério da Saúde. “De alguns meses para cá, conseguimos implantar um padrão internacional para rastreabilidade dos medicamentos que trafegam no sistema público de saúde, o que não havia até agora”, comemora Perche. Ele explica que se trata de um projeto extremamente complexo, “já que temos 27 unidades federativas com processos autônomos de gestão da saúde”. O país tem 5.570 operadores municipais do sistema de saúde. Todo o sistema gera a média de 500 milhões de consultas médicas por ano, com desdobramentos como administração de medicamentos e exames clínicos. O Brasil conta também, segundo Perche, com o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo. A rastreabilidade é fundamental, portanto, para o perfeito funcionamento de todo o processo de distribuição dos insumos. Cybelle Esteves, diretora de operações da DHL Supply Chain, foi uma das palestrantes do encontro que enfatizou a preocupação com os desafios para garantia da segurança do paciente. “Um dos maiores desafios da cadeia é evitar o desabastecimento de medicamentos confiáveis por falhas no processo logístico, já que milhares de pessoas podem ser prejudicadas.” Segundo dados levantados por pesquisas acompanhadas pela DHL Supply Chain, US$ 75 bilhões circulam no mundo por ano em remédios falsificados. Para Cybelle, a implantação de sistemas de automação baseados em um padrão único de identificação promoverá maior controle de todas as unidades logísticas que circulam na cadeia, redução de falsificação, processos de recall e redução no tempo de chegada do remédio ao paciente. Kleber Fernandes, gerente de operações da AGV Logística, destaca a importância da informação padronizada para todos os parceiros da cadeia de abastecimento. “Só temos rastreabilidade se a logística reversa for possível; se a informação puder percorrer o caminho de volta na cadeia e for bem aproveitada.” Fronteiras - Luciano Stremel Barros representou o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf). Seu principal argumento foi o prejuízo causado à sociedade e à saúde pública pelo contrabando de medicamentos falsificados que chegam às mãos da população brasileira. “Temos o desafio de controlar com a parceria da Polícia Federal 16 mil quilômetros de fronteiras, suscetíveis ao contrabando, que tem como principal fornecedor o Paraguai, com média de entrada no Brasil de R$ 20 bilhões por ano em medicamentos falsificados”. Para os representantes da indústria Johnson & Johnson, Leandro Oliveira e Jefferson Pereira, a correta informação nos processos de rastreabilidade e a segurança dos medicamentos depende muito do fluxo em todos os integrantes e parceiros das cadeias produtivas e de abastecimento.

Por isso, acreditam ser improvável a implantação da rastreabilidade até o ponto de dispensação no Brasil dentro do prazo exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As fronteiras entre os elos da cadeia de abastecimento e o fluxo de medicamentos em grandes complexos hospitalares foram debatidas enfaticamente pelos representantes de Hospital Sírio Libanês, Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital das Clínicas. Nesse universo, as dificuldades começam na etiquetagem de cada item a ser ministrado em pacientes para identificá-los com precisão. Cada hospital tem um sistema próprio de identificação, o que os obriga a implantar uma linha de produção internamente. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) mantém nove unidades de farmácia em um complexo de nove hospitais. A movimentação é de 28 milhões de unidades de medicamentos por mês. Vanusa Barbosa Pinto, diretora da farmácia do Instituto Central do HCFMUSP, afirma que a chegada do medicamento rastreado ao paciente, na prática, ainda é um desafio muito grande no país.

A etiquetagem, primeira etapa de um processo longo, também é um dos problemas resolvidos pelo Hospital Sírio Libanês. De acordo com Debora Carvalho, gerente de farmácia da instituição, são etiquetadas 600 mil unidades de medicamentos por mês – a totalidade do fluxo. Esse é somente o primeiro passo para o hospital ter a informação padronizada para promover a rastreabilidade. Já Nilson Gonçalves Malta, responsável pela automação da área de farmácia do Hospital Israelita Albert Einstein, apresentou o caso de adoção do código GS1 DataMatrix na instituição. “Hoje temos 35% do nosso volume de medicamentos identificados dessa forma até a chegada ao paciente.” O hospital está no caminho para os ‘cinco certos’: paciente certo, medicamento certo, rota certa, dose certa, na hora certa.

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